DIP
1. Introdução
A Doença Inflamatória Pélvica (DIP) é uma das mais freqüentes complicações das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e uma importante causa de gestação ectópica e infertilidade feminina. É uma síndrome clínica atribuída à ascensão de microorganismos do trato genital inferior, que compromete o endométrio, trompas, anexos uterinos e/ou estruturas contíguas (ooforite; parametrite; pelviperitonite; miometrite).
O termo salpingite aguda é um sinônimo de DIP aguda. É uma entidade de grande importância médica e socioeconômica, visto que é uma causa freqüente de infertilidade, gestação ectópica, dor pélvica crônica e internação nos serviços de ginecologia.
2. Epidemiologia - fatores de risco
Idade - pacientes mais jovens, entre 20 e 30 anos, têm maior incidência de DIP. Isso se correlaciona provavelmente com o comportamento sexual nesta faixa etária, predispondo às doenças sexualmente transmissíveis. Talvez esteja também relacionada a características biológicas que predispõem ao desenvolvimento da doença inflamatória pélvica, como maior permeabilidade do muco cervical, menor prevalência de anticorpos contra chlamydia e maior área de eversão no colo uterino.
Situação socioeconômica - observa-se uma maior incidência de DIP em classes econômicas menos privilegiadas.
Atividade sexual - múltiplos parceiros sexuais ou parceiro sexual com múltiplas parceiras constituem importante fator de risco para DIP, aumentando a incidência em até seis vezes.
DST prévias ou atuais - pacientes portadores de infecção por Clamydia, gonococo ou mycoplasma têm um risco aumentado para o desenvolvimento de DIP. Acredita-se que até 20% dessas pacientes irão desenvolver a doença.
História prévia de DIP - as trompas morfologicamente alteradas pela DIP são mais suscetíveis a novos episódios. Por outro lado, a DIP prévia revela, em grande parte dos casos, um comportamento sexual específico de risco que não tende a mudar com o tempo.
Parceiro sexual portador de uretrite.
Manipulação inadequada do trato genital.
Uso de DIU - o uso do dispositivo intra-uterino, principalmente quando associado a outros fatores de risco, é um importante fator para o desenvolvimento da doença inflamatória pélvica. Esse risco parece ser maior nos primeiros quatro meses de uso.
OBS: Quando usado de forma adequada, os métodos contraceptivos de barreira estão associados a uma diminuição do risco de DIP, DST e infertilidade. Esses métodos parecem diminuir a incidência de DIP ao reduzir a chance de contrair DST.
Os anticoncepcionais orais (ACOs) estão associados a uma diminuição da incidência de DIP sintomática, apesar de não modificar a incidência de infertilidade nas mulheres. Isso sugere que mulheres em uso de ACOs desenvolvem DIP como a população geral, entretanto de forma mais branda, possivelmente assintomática.
3. Microbiologia - agentes etiológicos
• N. Gonorrhoeae (mais comum)
• C. Trachomatis (mais comum)
• Ureaplasma urealyticum
• Streptococcus beta-hemolítico do grupo A
• Mycoplasma hominis
• Hemophilus influenza
• Streptococcus pyogens
• Streptococcus pneumoniae
• Peptostreptococcus sp
• Bacteroides fragilis
• Escherichia coli
Obs: As infecções são freqüentemente polimicrobianas
4. Classificação
Estágio I (Leve) - salpingite aguda sem irritação peritoneal.
Estágio II (Moderada sem abscesso) - salpingite com irritação peritoneal (pelviperitonite)
Estágio III (Moderada com abscesso) - salpingite aguda com oclusão tubária ou abscesso tubo-ovariano ou abscesso pélvico.
Estágio IV (Grave) - abscesso tubo-ovariano roto ou sinais de choque séptico
5. Diagnóstico clínico
O princípio básico do diagnóstico da DIP é o estabelecimento de rotinas diagnósticas, sensíveis o suficiente para a diagnosticar casos leves e específicas com o intuito de evitar o uso indiscriminado e desnecessário de antibióticos em mulheres sem infecção. Muitos sintomas clínicos são sugestivos de DIP, entretanto, nenhum é específico o suficiente para garantir o diagnóstico baseado somente na história clínica.
5.1. Sintomas da Doença Inflamatória Pélvica
• Dor em região inferior do abdômen;
• Menorragia;
• Calafrios;
• Corrimento com características mucopurulenta - denotando processo infeccioso do aparelho genital inferior;
• Disúria - Achado que traduz acometimento do trato urinário inferior concomitante;
• Sintomas gastrintestinais - náuseas; vômitos; anorexia;
• Queda variável do estado geral.
O próximo passo no diagnóstico clínico da DIP é o exame físico, com exame do abdômen e do trato genital. A secreção vaginal deve ser avaliada assim como a presença de endocervicite.
5.2. Sinais da Doença Inflamatória Pélvica
• Dor à palpação em região abdominal inferior;
• Dor à palpação e percussão do hipocôndrio direito - possibilidade de Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis (SFHC). A SFHC é uma manifestação extra-pélvica da DIP e costuma ser um achado incidental nessas pacientes, visto que os sinais e sintomas pélvicos tendem a ser mais intensos que àqueles relacionados à peri-hepatite. A dor é geralmente no hipocôndrio direito, sendo exacerbado pela tosse e inspiração. Pode haver irradiação para região escapular;
• Hipertermia vaginal;
• Febre;
• Dor à palpação das regiões anexiais;
• Dor à mobilização do colo uterino;
• Secreção vaginal ou cervical anormal;
• Massa pélvica - a presença de massa anexial palpável ao exame bimanual em uma paciente com diagnóstico de DIP é muito sugestivo de abscesso tubo-ovariano;
• Abaulamento do fundo de saco - presença de abscesso ou líquido livre na cavidade;
• Sinais de irritação peritoneal.
6. Diagnóstico laboratorial e exames complementares
Hemograma Completo - é um exame de grande importância para complementar o diagnóstico do processo inflamatório pélvico. Observa-se freqüentemente leucocitose, por vezes elevada.
Velocidade de Hemossedimentação (VHS) - é um exame inespecífico que se altera em qualquer processo inflamatório. Tem maior importância no controle do tratamento das pacientes com DIP. Também pode ser utilizada a Ptn C reativa.
Avaliação da secreção de endocérvice e vaginal - a presença de mais de cinco leucócitos por campo de imersão na secreção de endocérvice é um dos critérios para o diagnóstico de DIP (critério menor)
Avaliação microbiológica - a endocérvice é o melhor local para obtenção de material para exame microbiológico. Se possível, deve ser solicitado cultura para chlamydia e gonococo. O estudo microscópico do material obtido corado pelo gram também é de grande importância. Também se pode obter material da uretra, do abdômen (através de laparoscopia) e do fundo de saco posterior (culdocentese)
Ultra-sonografia pélvica - por ser um exame não-invasivo e desprovido de complicações, está indicada na avaliação da paciente com suspeita de DIP. Correlaciona-se relativamente bem com os achados laparoscópicos nas mulheres com doença severa. Pode-se visualizar trompas alargadas, com limites imprecisos ou com conteúdo líquido no seu interior (piossalpinge), e até massas anexiais nos casos de abscesso tubo-ovarianos. Nas pacientes com doença leve os achados ultra-sonográficos são escassos.
Radiografia simples do abdômen - é de utilidade nos casos de abdômen agudo, como primeira avaliação.
Laparoscopia - constitui-se atualmente no "padrão ouro" para o diagnóstico e estadiamento da Doença Inflamatória Pélvica. Além de se obter material da cavidade abdomino-pélvica para exame laboratorial e microbiológico, pode-se visualizar, nos casos de salpingite aguda, hiperemia importante da superfície tubária; edema da parede tubária; e exsudato na superfície tubária e fímbrias.
EAS e Urinocultura
Teste de Gravidez - afastar prenhez ectópica
Biópsia de endométrio - a endometrite está freqüentemente associada à salpingite. A biópsia de endométrio com subseqüente confirmação histológica de endometrite aguda ou crônica confirma o diagnóstico de DIP (critério elaborado).
7. Critérios para o diagnóstico da doença inflamatória pélvica
Para o diagnóstico é necessário 3 critérios maiores + 1 critério menor ou 1 critério elaborado.
Critérios maiores
• Dor no abdômen inferior;
• Dor à palpação dos anexos;
• Dor à mobilização do colo uterino.
Critérios menores
• Temperatura axilar maior que 37.8oC;
• Secreção vaginal ou cervical anormal;
• Massa pélvica;
• Mais de cinco leucócitos por campo de imersão em secreção de endocérvice;
• Hemograma infeccioso (leucocitose);
• Proteína C reativa ou VHS elevada;
• Comprovação laboratorial de infecção cervical pelo gonococo, clamydia ou mycoplasma.
Critérios elaborados
• Evidência histopatológica de endometrite;
• Presença de abscesso tubo-ovariano ou de fundo-de-saco de Douglas em estudo de imagem (USG pélvica);
• Laparoscopia com evidência de DIP.
8. Diagnóstico diferencial
• Prenhez ectópica;
• Apendicite aguda;
• Infecção do trato urinário;
• Litíase ureteral;
• Torção de tumor cístico ovariano;
• Rotura de cisto ovariano;
• Endometriose (rotura de endometrioma).
9. Tratamento
O tratamento adequado da paciente com DIP engloba antibioticoterapia apropriada; determinação da necessidade de hospitalização; educação e orientação da paciente; avaliação do(s) parceiro(s) sexual(is); e seguimento pós-tratamento.
O tratamento deve ser iniciado tão logo o diagnóstico seja feito, pois um retardo no seu início pode acarretar danos irreversíveis no sistema reprodutor. Quanto mais rápido iniciado o tratamento, menor a chance de seqüelas. Este é baseado no consenso de que a PID é usualmente polimicrobiana e, na maioria das vezes, é iniciado de forma empírica.
Um dos aspectos básicos do manejo da paciente com doença inflamatória pélvica é a avaliação da necessidade de internação para tratamento. O tratamento ambulatorial aplica-se a mulheres que apresentam quadro clínico leve, exame abdominal e ginecológico sem sinais de pelviperitonite e que não estejam incluídas nos critérios para tratamento hospitalar:
• Caso de emergência cirúrgica (Ex.: abscesso tubo-ovariano roto);
• Quadro grave com sinais de peritonite, náuseas, vômitos ou febre alta;
• Gestantes;
• Paciente imunodeficiente (HIV positiva com baixos níveis de CD4, ou em uso de terapia imunossupressora ou outros quadros debilitantes);
• Paciente não apresenta resposta adequada ao tratamento ambulatorial;
• Paciente não tolera ou é incapaz de aderir ao tratamento ambulatorial.
10. Indicações para tratamento cirúrgico
• Falha do Tratamento Clínico;
• Presença de Massa pélvica que persiste ou aumenta, apesar do tratamento clínico;
• Suspeita de rotura de abscesso tubo-ovariano;
• Hemoperitônio;
• Abscesso de fundo de saco de Douglas.
11. Tratamento do(s) parceiro(s) sexual(is)
Azitromicina 1g VO (dose única) + Ofloxacina 400 mg VO (dose única)
12. Observações
1. Nos casos mais graves ou de resposta inadequada, avaliar a necessidade de associar outro antibiótico. Pensar na remota possibilidade de tromboflebite pélvica.
2. Após orientação e aconselhamento, sempre que possível, sorologia para sífilis, hepatite B e HIV.
3. Reavaliar a paciente a cada três meses durante o primeiro ano.
4. Tratar de maneira mais agressiva as pacientes HIV+, com um dos esquemas de antibióticos parenterais.
6 comentários:
Dr boa noite fiz uma ultrason o médico disse que estava com dip, marquei consulta com ginecologista ela passou protectina e crê vagem creme, como não passou outros exames fiz uma transvaginal estava tudo ok, fiz o preventivo deu inflamatório leve, usei pomada e fluconazol, depois voltei ao ginecologista ele passou 5 cefritriaxona 1g injetáveis, nunca tomei nos horários certos para tive que tomar todas as injeções em urgência emergência mais contínuoo sentindo dores e fiz hemograma exame de urina tudo ok, já não sei o que fazer fiz outra ultrason com outro profissional confirmou a dip , e disse que estou cheia de líquido, já não sei o que fazer
Há Dois meses fiz um exame tranvaginal, para saber se o cisto que eu tinha havía destruido, graças a Deus que estou livre, mais no exame constou, Líquido livre em Fundo de Saco, o que isso quer dizer ? Posso retornar ao ginecologista com o exame feito a dois meses ? Ou tenho que refaze-lo
Minha mãe fez uma tomografia o médico disse que ela tem uma colação um abcesso no tubo ovariano que precisa ser drenado mais antes disso ela ficou internada e tomou vários antibióticos para baixar os leucócitos que estavam auto agora ela terá que fazer uma cirurgia para tirar esse abcesso e uma cirurgia simples ?
Dr. Fiz uma ultra vaginal deu q eu estou com um pouco de liquido no saco de Douglas.oq eu fazer.
Boa noite ,tbm estou com líquido no saco de Douglas
O que tomar pra melhorar ?
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